quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Ronald comanda Mafuá de Malungo - por Maira Knop

Livrarias são espaços especialmente interessantes. Há quem os considere um mundo à parte. Nesses locais, encontramos muita informação, registros excêntricos, exposições; nos atualizamos, compramos livros, CDs, trocamos idéias, encontramos amigos, interagimos e aprendemos. As Livrarias, hoje, são imensamente mais do que lugares aos quais nos dirigimos apenas para aquisições. São espaços destinados também a oportunizar o falar entre as artes. E é nesse clima de troca e aprendizagem que acontecem encontros mensais do Projeto MAFUÁ DE MALUNGO, concebido por Ronald Augusto e destinado a receber na PALAVRARIA para um bate-papo e apresentação de suas obras alguns dos tantos artistas porto-alegrenses. Nesta quarta, 09 de julho, Ronald recebeu o poeta José Eduardo Degrazia. Conversou-se muito sobre Poesia, suas funções, formas, estrutura. Diferentemente de outros discursos como a filosofia, a religião e a política, a poesia é o único questionamento que não nos oferece respostas. Comentou-se sobre o fazer poesia. Suas idas e vindas na ponte do consciente/emoção, sobre alguns grupos de vanguarda que trabalham o poema transitando a forma do emocional. Quanto ao lirismo e a metalinguagem do fazer poético, Ronald perguntou à Degrazia se neste processo acentuava-se sua angústia ou alegria, sendo a segunda opção a escolha do caminho para a composição de seus versos. Enfatizou também que as novas situações recriadas é que permanecem e que muitas vezes, ao serem argüidos sobre as influências de outros poetas em seus trabalhos, vários poetas confessavam não ler outros para não sofrerem interferências. Ora, alguém que não lê, não escreve, ressalta Degrazia. Quanto mais leitura, maior o campo de possibilidades. Um poeta não deve nunca manter-se na linearidade. Durante o papo, fez-se algumas considerações sobre a questão filósofos x poetas, o dizer indizível, os incômodos que nos provoca a poesia. Da conversa inicial, já fica visível a necessidade que deve ter todo poeta em manter seu discurso sempre aberto, porque os filósofos, grandes construidores do mundo, possuem uma visão sistemática deste, ao passo que o poeta possui na construção de seu olhar uma “clareira” que torna seu olhar especial. O filósofo pensa a palavra/linguagem, enquanto o poeta se utiliza desses recursos para criar a plástica do poema. Quando se conversou sobre as maneiras de se comercializar a poesia, por ser ela a última fronteira da arte, houve entre os presentes quem afirmasse que poesia se vende sim, mais lentamente mas se vende. Houve quem concordasse com o fato de a poesia ser comercializada como uma outra arte qualquer. José Antônio Silva, presente no encontro, reivindicou pensão aos poetas, trabalho ainda hoje pouco reconhecido e valorizado. Sobre a questão, Ronald disse que a poesia necessita de um tempo de maturação e continua sendo a única forma de arte não absorvida pelo consumismo. Todo poeta possui estilo. Alguns, vários. Esta capacidade de expressar-se através da linguagem deve sim ser comercializada. É uma forma de valorizar o trabalho do artista que usa a palavra como matéria prima. Dentro de seu espaço de criação, faz da palavra material de transformação. Como artista, molda a palavra em sua própria plástica e este trabalho ainda é ignorado por muitos, apesar de estar sendo trabalhada a questão do incentivo à leitura, com projetos como o adote um escritor e outros. Degrazia acha que a poesia quando remetida ao seu lado lúdico, passa a ser desmistificada e melhor aceita pelo público leitor. Cita o exemplo de Lígia Averbuck, hoje Fundação, como especial pioneira no assunto. Comenta ainda a falta de uma política cultural específica principalmente nos bairros e pequenas cidades. Estas medidas devem ser cada vez mais incentivadas pelo estado – concluiu. Alexandre Brito, poeta, músico e integrante do grupo Os PoETs, conta do trabalho que está sendo feito em Cachoeirinha para uma maior educação quanto ao hábito da leitura, onde são feitos encontros entre escritores/poetas e professores/bibliotecários/comunidade. De posse do material do artista, estes educadores dispõe de um prazo de três meses para trabalhar os livros junto aos seus públicos. Após este primeiro contato são promovidos então novos encontros, agora entre alunos e escritores para uma interação mais próxima e marcante. Cecília, outra interessada ouvinte do encontro, disse que ofereceu livros a algumas crianças pedintes e que muitos outros seguiram seu exemplo comprovando que o importante é fazer. É alguém começar. As perguntas tiveram que ser moderadas por falta de tempo. O assunto é vasto e o interesse, grande. O evento teve ainda a leitura de poemas, entre eles, “Mulheres”, influenciado pelas vivências nos campos do interior de Itaqui e Santa Maria, cidades onde viveu Degrazia. Complementou confessando-se satisfeito quando na internet encontrava trabalhos seus em sites e blogs de admiradores da poesia. Para o encerramento, não podia faltar a boa música bem interpretada pelo Vítor Flores.

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