domingo, 21 de outubro de 2007

...quando minha criança escreve:

UMA BAGUNÇA LITERÁRIA

-Conta aquela história, conta – insistia Marú.
-Que história? Perguntou Lia.
-Aquela do indiozinho que adorava escrever mas trocava as palavras. Ela é tão divertida.
Uma história sempre será interessante e divertida por ser a criativa versão de seu autor. Vamos combinar o seguinte: Primeiramente precisamos terminar de arrumar estes livros. Vou deixar separado o que você me pediu.
-Qual é mesmo o nome do livro?
-Na trilha das letras.
-Ah, aqui está.
Lia o colocou sobre a mesa para que não se misturasse aos demais. Depois, pediu à Marú que procurasse alguns personagens que haviam escapado de um livro de contos que, aberto sobre a mesa, esperava para ser lido. Às vezes alguns personagens cansavam-se de seus cenários e faziam-se ausentes. Saíam por aí a planar, sem lenço nem documento... Certa vez ao recebermos uma especial encomenda de livros de ficção, passamos horas atrás de alguns e teve outros que resistiram em voltar. Fantasmas e suas sombras. Ninguém percebia suas travessuras mas eu as via. Talvez fosse esta a razão do meu apego aos livros. Desde a infância conhecia as histórias e podia, quando bem quisesse, sair do trilho das linhas e dividir, por exemplo, com alguns personagens certas travessuras. Na verdade, Marú também sabia, apenas mantínhamos segredo. Através deste estranho poder passávamos horas neste mágico envolvimento. Os livros não nasceram exatamente como são. Quer dizer, são como são, mas se ampliarmos nossa imaginação, podemos do nosso modo lê-los. Ouso contar que no livro dos três porquinhos, não era o lobo quem batia às suas portas. Era o Dunga, um dos sete anões. Estava vendendo os ovos da galinha de ouro. É que estava desempregado o coitado. Precisava arranjar dinheiro para alimentar seus manos. Os ovos tinham sido presente de Ali Babá. Estavam guardados na caverna mágica de Mustafá. Secretamente guardados. Num belo dia, Ali Babá encontrou este esconderijo. Como o lugar era muito escuro e ele estava faminto, tateando encontrou o que pensava serem ovos e os levou consigo. Claro que achou-os diferentes, pareciam mais pesados mas mesmo assim levou-os. Em casa, ficou surpreso ao vê-los e resolveu guardá-los. Certa manhã bateu-lhe à porta o Conde de Monte Cristo. Ao convidá-lo a entrar, bondoso que era, e estando de posse da poderosa esmeralda, Ali mostrou-lhe os ovos e ele os fez triplicar inúmeras vezes. Na aldeia acontecia um grande festival e Ali Babá encontrou aí uma excelente oportunidade de presentear amigos e colegas. Pudera. O que iria fazer com todos aqueles ovos de ouro? Na festa, entre tantos famosos personagens, encontrava-se Gessler, governador da Suíça, aquele malvado do livro do Guilherme Tell. Com o intuito de aumentar ainda mais seu poder, queria de Ali Babá tomar os ovos. Este, tentou até convencê-lo a trocar alguns pela maçã que seria usada sobre a cabeça de Christian, mas não houve jeito. A estas alturas você já deve estar imaginando aonde vai parar esta confusão.
-Vou procurar alguém para lhe ajudar – disse a polegarzinha. Pediu carona ao porco Percival e foi ter com o Gato de Botas. Ao encontrá-lo, fez a ele a seguinte proposta: Precisava de sua ajuda para convencer Aladim a trocar a lâmpada mágica por alguns ovos, desse modo, poderiam invocar o Gênio e como desejo, pediriam a ele que fizesse Gessler desaparecer. Foi o que fizeram. Quando voltavam para a animação da festa encontraram a Menina dos Fósforos, Branca de Neve e Cinderela. Uma abóbora foi ofertada a Ali e trocada por ovos. Igualmente foi entregue a ele uma caixa especial de fósforos. Branca de Neve teve mais sorte pois além de ganhar os ovos ainda levou de brinde a maçã que seria usada por Gessler, colocando imediatamente a sua fora por estar envenenada. Esta sua atitude deixou a bruxa furiosa. Indignada, bateu o pé no chão com tamanha violência que acabou transformada em um pequenino coelho. Chapeuzinho Vermelho queria muito estar ali, mas desculpou-se enviando um e-mail. Tinha compromisso marcado com Rapunzel que se casaria em breve e ainda precisava fazer duas provas do vestido no Pequeno Alfaiate. Diante de toda esta trapalhada, ficou bastante difícil para Lia e Marú colocarem os livros em ordem, sem contar que Lia ainda devia cumprir o prometido. Acabadas as tarefas, Lia teve que recolher todas as pedrinhas brancas de uma longa trilha. É que para ouvir aquela inesquecível história, estavam sentados com Marú e Lia, ninguém mais que João e Maria.

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